28 de outubro de 2007

A menina da capital

Em uma pacata vila, distante das metrópoles, viviam vinte e poucas pessoas em algumas casas em uma única rua. Não havia prédios, nem asfalto e nem comércio sofisticado, havia apenas uma lojinha da Tia Josephine que abusava nos preços de seus bibelôs, cereais, ferramentas e pantufas felpudas cor caramelo. Uma única capela em sinal da religião no final da rua. Não havia prefeitura, correio nem cadeia, pois em um lugar tão pequeno não precisava impor leis, mandar cartas e muito menos havia motivos para cometer crimes.
Era um sábado ensolarado quando o carro de aluguel chegou na vila, o que despertou a curiosidade dos moradores. Até o padre queria conhecer o forasteiro. Na verdade eles viram que não se tratava de um forasteiro, mas sim uma forasteira, linda, alta, magra, cintura fina, quadril largo, seios fartos, boca carnuda, ruiva com sardinhas e olhos verdes, a mais perfeita das criaturas.
Até o padre, um homem de Deus, “livre” de pecados sentiu um desejo pela visitante, viu que algo acontecia por baixo de sua batina quando encontrava com a moça.
Várias malas foram retiradas do carro e levadas para a casa que ficava ao lado da de Dona Domingas.
Pouco a pouco, a jovem fez amizade com todos da vila, seu nome era Jasmine. Foi parar lá devido a tuberculose, precisava de um ar puro e como não havia campo ali por perto da metrópole teve que ir para a pacata vila.
Uma coisa que chamava a atenção dos outros moradores era o pequeno criadouro que ela trouxe. Ninguém sabia o que era e a curiosidade já estava se tornando mórbida.
Um dia, saindo da lojinha, Jasmine dá uma trombada em um rapaz elegante, parecia ser boêmio, tinha os dentes brancos, era claro, parecia-se como um modelo.
“Perdoe-me, mas uma jovem tão bela não deveria freqüentar um lugar mequetrefe como esse.”
“Não sou tão jovem assim como o senhor pensa.”
“Melhor ainda, mostra que a senhorita é amiga do tempo que não a deixa envelhecer.”
Jasmine ficou com as bochechas coradas diante a tantos elogios.
“O senhor também é muito bonito!”
“Queira me desculpar, mas não me chame de senhor, não sou tão velho assim, me chame de Mathias.”
“Sou Jasmine, prazer.”
“Eu já sei, foi comentário da vila durante semanas, o prazer é todo meu.” Respondeu beijando as mãos alvas da moça.
“Eu ainda não tinha te visto. Você realmente estava aqui na vila nesses últimos dias?”
“Não é por que você não pode me ver que eu não existo. A senhorita não vê o ar, mas sabe que ele existe.”
“Tem razão. Agora me deixe ir, porque tenho pressa.”
“Tudo bem! Um dia nos encontramos novamente?”
“Sim claro. Moro nessa casa branca aqui em frente.”
“Quando menos esperar eu aparecerei lá.”
“Tudo bem.” Jasmine virou-se e foi em direção a sua casa.
Na mesma noite na casa de Jasmine, Mathias bate a porta e ela o recebe.
“Estava te esperando!” diz ela sorridente.
Passaram-se algumas horas até que eles terminaram de beber a garrafa de vinho. Meio bêbada, subiu com ele em direção ao quarto dela.
Na manhã seguinte ela acordou meio confusa na cama e viu que estava nua, foi quando olhou as horas e viu que já era quase hora do almoço. Já que não tinha preparado nada para comer, resolveu fazer um lanche na lojinha.
Quando saiu de casa reparou que todos estavam comentando algo sobre ela, mas achou normal, já que ela foi motivo de fofocas durante dias e então entrou na lojinha.
“Tia Josephine eu queria um sanduíche com um refresco.!”
“Como pôde, menina?”
“O que?”
“Deixar se levar pela lábia do Miguel? Uma jovem da capital não deveria ser tão tola?”
“Miguel? Quem é Miguel?”
“O rapaz que você conversou ontem aqui em frente.”
“Mas ele se chama Mathias!”
“Mathias, Rafael, Hans... são vários os nomes que ele usa pra enganar as moças. Ele é experiente, vem da metrópole e de vez em quando engana as moças da região. Torça pra não estar de barriga como Madalena. Ela descobriu que estava grávida e se enforcou.”
“Filho da puta!”
“Agora não adianta chorar!”
Dez anos se passaram...
“Filho, pegue essa tinta verde e pinte a parede para a mãe!” gritou Jasmine ao seu filho que agora tinha pouco mais que 9 anos.
Ela tinha perdido o interesse pela vida, ficou amargurada, não se cuidava mais, o tempo agora tinha se tornado seu inimigo. Um dia, se olhando no espelho e vendo essa nova velha pessoa, resolveu mudar, juntou suas coisa em uma única mala e partiu.
Ninguém sabe pra onde ela foi, só se sabe que deixou seu filho para trás.

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