Em uma pacata vila, distante das metrópoles, viviam vinte e poucas pessoas em algumas casas em uma única rua. Não havia prédios, nem asfalto e nem comércio sofisticado, havia apenas uma lojinha da Tia Josephine que abusava nos preços de seus bibelôs, cereais, ferramentas e pantufas felpudas cor caramelo. Uma única capela em sinal da religião no final da rua. Não havia prefeitura, correio nem cadeia, pois em um lugar tão pequeno não precisava impor leis, mandar cartas e muito menos havia motivos para cometer crimes.
Dona Mercês, irmã de Dona Domingas e Tia Josephine, tinha duas filhas, irmãs gêmeas. Sua situação financeira não era das melhores, para dizer a verdade eram paupérrimas. Desde que seu marido foi pra guerra deixando-as sozinhas, elas não tinham dinheiro, pois nenhuma delas trabalhava.
As irmãs gêmeas eram inseparáveis, Vestiam-se com os mesmo vestidos, velhos e encardidos e já quase todos desbotados, do mesmo jeito que encontrava-se a casa delas, velha, podre e desbotada.
Um dia, muito quente por sinal, chegou um homem na lojinha vendendo frutas, verduras e legumes muito vistosos para Tia Josephine e viu as duas meninas chupando um picolé laranja, deveria ser um dos famosos picolés de acerola e laranjinha da lojinha de Tia Josephine.
O velho senhor verdureiro se encantou demais com as duas meninas e então resolveu dar algumas maçãs para levarem para casa.
Quando anoiteceu o homem bateu na porta de Dona Mercês.
“Posso entrar?”
“Claro! Sim senhor! Entre por aqui!”
“Muito gentil a senhora!”
“Mas o que o senhor quer? Meninas, subam para o quarto, esse vai ser um assunto de adulto.” (As três estavam ouvindo um CD de Bach, uma das únicas heranças que o pai delas havia deixado)
“De fato vai ser um assunto de adulto.” Ele interrompeu a fala esperando as irmãs subirem a escada, quando ele não podia mais vê-las continuou a falar com Dona Mercês.
Enquanto isso no quarto da meninas:
“Fiona eu tenho medo! Quem é esse moço? O que ele quer?”
“Calma! Segure a Francisquinha!” Fiona deu uma boneca de porcelana barata para sua irmã que logo apertou-a.
Passado algum tempo, Dona Mercês chamou as meninas para comunica-las algo importante.
“Este é o Senhor Fausto e vai fazer uma coisa muito importante para nós! Isadora, vá arrumar sua malinha querida, você vai viajar pra ajudar a mamãe!”
“Mamãe, eu também quero ir!” Disse Fiona.
“Mas a mamãe tem que ficar com uma, querida!” uma lágrima escorreu de seus olhos nesse momento. “Depois a Isadora vai voltar!”
Assim, o homem levou Isadora e deu uma boa quantia em dinheiro a Dona Mercês.
Passado alguns meses Fiona ainda com 6 anos perguntou à sua mãe:
“Mamãe, Isadora não vai voltar?”
“Isadora, filinha, era uma amiguinha imaginária sua que foi pra longe!”
“Ah ‘tá’!”
Dona Mercês morreu tempos depois, talvez tenha sido de desgosto ou de arrependimento, mas fato é que deixou Fiona para ser cuidada por Tia Josephine.
Arthur, que vivia na casa em frente era um pouco mais velho que ela na época e foi logo quando sua mãe o havia deixado.
Fiona como uma criança curiosa, um dia perguntou a ele:
“O que você guardou de sua mamãe quando ela se foi, assim como a minha? Eu guardei uma presilha em forma de coelhinho da minha.”
“Eu tenho um viveiro, viveiro de aranhas!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário