6 de agosto de 2008

Cartas à um amor passado

Minha doce Beatrice, lembro-me de tua alva pele, de teus finos cabelos e de tuas mãos aveludadas. Triste fim para uma beleza, que jamais na natureza viram igual. Maldita tuberculose, maldita guerra. Até hoje não entendo porque honrar o nome de minha família com sangue de inocentes em fundas trincheiras. Havia mais gente, eu tinha alguns primos, tinha João, Antônio e Melquíades, porque eu tinha que ir?

Ainda posso ouvir o caos, posso sentir o terror da guerra novamente. Mas era tua face que me tirava desses momentos de agonia e medo, teu rosto angelical florescia até a mais hostil terra do mundo, a paz voltava a reinar e me dava forças para continuar a lutar.

Lá ficava pensando em nosso amor, também cheguei a pensar que já teria me esquecido com o passar do tempo, talvez se casasse com o Conde de Ahmondieu, o melhor partido da cidade, teriam vários filhos e seriam felizes para sempre.

Mas foi chegar aqui que fiquei sabendo que mesmo em seu leito de morte pensavas em mim, nunca me esquecera.

A morte é mesmo egoísta, levou-te antes de mim, não esperou que eu voltasse para me despedir. Agora em meu peito não é o amor que bate, mas é a saudade que aperta. Em frente seu túmulo, não tenho mais amor nem coração, tenho um vazio.

Minha doce Beatrice, mulheres mortas não contam histórias, homens tristes as escrevem.

26 de abril de 2008

Crônicas de uma avó remetedeira*

Uma senhora, já de muita idade, passado seus 90 anos, depois de 5 filhos, dois deles mortos em desastre, e alguns netos e bisnetos, em uma tarde fria e chuvosa resolveu tirar do fundo do armário uma velha pasta que continha algumas fotos e poucos documentos.
Ao passar cada relíquia daquela acabou montando um filme de sua vida em sua memória, pois o que ela tinha o tempo censurou algumas cenas.
Viu seus pais, reencontrou suas irmãs e relembrou de seus amigos, releu algumas cartas e algumas faturas antigas, até que encontrou um documento realmente peculiar, sua primeira carteira de trabalho e pode relembrar cenas de sua vida que fizeram-lhe soltar algumas lágrimas, ainda mais quando viu sua primeira fotografia, uma pequena, tamanho três por quatro, preta e branca e já desgastada, lembrou que tirou aos 16 anos de idade e de um outro fato peculiar:
"Estava trabalhando arrumando os fios quando o Senhor Pimpão, o dono da fábrica de tecidos, esse era seu apelido, o nome já não me lembro mais, falou 'Vamos tirar as fotos para a carteira, anda, vamos!' ele era muito engraçado, mas nós queríamos nos arrumar, estávamos suadas, minha sorte é que eu gostava de andar arrumadinha, de brinco e colar, porque Sr. Pimpão disse 'Vamos gente! Não precisa de se arrumar! Quem nasceu bonito sai bonito, quem nasceu feio sai feio mesmo!' foi assim que tirei minha primeira foto, de cabelo escorrido pro lado e um vestido velho."
Depois de rever algumas outras fotos e outros documentos resolveu guardar a velha pasta no fundo do armário e decidiu que não a abriria mais, queria morrer com aqueles bons momentos relembrados, porque se continuasse talvez iria se recordar de algo indigesto.
Ela viveu por mais alguns anos e depois, enfim reencontrou suas memórias.

*remetedeira: cargo na fábrica de tecelagem que preparava os fios para as tecelãs

22 de abril de 2008

A famosa lenda de QUEM?

“Brincadeira de criança como é bom, como é bom! Trago ainda na lembrança!” Qual a pessoa que quando era criança não brincou de contar histórias de terror em uma noite em que estão todos juntos no mesmo quarto em um lugar sinistro (sim, pois isso é essencial, sem esses elementos não há história que agüente, até a da loira do banheiro fica mais sinistra assim).

Pois bem, lembro-me que a última vez que participei dessas coisas, foi há pouco tempo atrás, na verdade foi uma participação involuntária, pois dormindo no mesmo quarto que outras crianças e já de madrugada a única coisa que se pode fazer quando se tem insônia é prestar atenção na conversa dos outros.

Um menino lá, que não lembro quem era, começou a contar a história do homem da padaria, não sei se vocês conhecem essa: fala de um homem de capa preta que entrou na padaria e matou um padeiro (isso faz algum sentido???) mas o fato é que as crianças que estavam lá ficaram realmente com medo! Sim! Medo! Mas vocês devem estar se perguntando,”Como assim?” e eu respondo “Sei lá!” na minha época as lendas eram mais criativas.

O pior de tudo é que sempre nesses lugares chega alguém mais velho, que resolve contar algo que realmente aconteceu, e nesse dia não foi diferente, quem me torturou com uma história foi uma mulher, que também não sei quem era, de uns 20/30 e poucos anos que provavelmente estava solteira e sem nada pra fazer, porque, convenhamos que quem faz isso é carente de atenção, ela contou uma história de que quando era criança, ela foi dormir na fazenda do avô dela e que de madrugada ouviram-se barulhos de correntes e aí viram um homem de branco do lado de fora da casa, até que o avô pegou uma espingarda e foi ver quem era o meliante, e adivinhem só: ele SUMIU! “Oh!” (momento de comoção geral) e no dia seguinte o gado inteiro estava morto. Incrível essa lenda, não? O engraçado é que parece que eu conheço vários netos desse senhor corajoso. E mais engraçado ainda é que esses elementos sublinhados estão sempre presentes.

Espero que quando eu atingir a idade de 20/30 e poucos anos, eu tenha algo melhor pra fazer ou então inventar uma lenda melhor!

E não se esqueçam, a boneca da Xuxa ganha vida de madrugada e arranha as crianças até a morte!

Bons Sonhos!