6 de agosto de 2008

Cartas à um amor passado

Minha doce Beatrice, lembro-me de tua alva pele, de teus finos cabelos e de tuas mãos aveludadas. Triste fim para uma beleza, que jamais na natureza viram igual. Maldita tuberculose, maldita guerra. Até hoje não entendo porque honrar o nome de minha família com sangue de inocentes em fundas trincheiras. Havia mais gente, eu tinha alguns primos, tinha João, Antônio e Melquíades, porque eu tinha que ir?

Ainda posso ouvir o caos, posso sentir o terror da guerra novamente. Mas era tua face que me tirava desses momentos de agonia e medo, teu rosto angelical florescia até a mais hostil terra do mundo, a paz voltava a reinar e me dava forças para continuar a lutar.

Lá ficava pensando em nosso amor, também cheguei a pensar que já teria me esquecido com o passar do tempo, talvez se casasse com o Conde de Ahmondieu, o melhor partido da cidade, teriam vários filhos e seriam felizes para sempre.

Mas foi chegar aqui que fiquei sabendo que mesmo em seu leito de morte pensavas em mim, nunca me esquecera.

A morte é mesmo egoísta, levou-te antes de mim, não esperou que eu voltasse para me despedir. Agora em meu peito não é o amor que bate, mas é a saudade que aperta. Em frente seu túmulo, não tenho mais amor nem coração, tenho um vazio.

Minha doce Beatrice, mulheres mortas não contam histórias, homens tristes as escrevem.

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