14 de fevereiro de 2010

Madame Bonheur (continuação)

[Para a anônima (risos) que me pediu uma continuação através do comentário]

Era final de tarde e a menina passava em frente a uma praça. Parou. Viu que umas crianças brincavam nas gangorras, uns idosos alimentavam os pombos e o sorveteiro, vestindo seu único jaleco azul, personalizado com seu nome, já estava empurrando seu carrinho, indo embora. Ela resolveu sentar em um dos bancos. Ficou admirando o rosado pôr-do-sol.
As palavras da Madame Bonheur ficaram rondando sua mente...
"Sua felicidade é você quem faz!"
E mesmo desacreditada, mas já resolvida que faria aquilo, a menina decidiu que aquele era o momento em que ela teria que começar a agir.
Buscou em sua mente quem a fez feliz. Ela queria que viesse uma resposta rápida. Alguém que ela tivesse amado. Amado mesmo, com todas as forças.
Vieram os amigos, os familiares, mas ninguém que ela realmente tivesse amado.
Pensou com ela mesma que aquilo seria bobagem e que cartomantes não passam de charlatãs.
Voltou a olhar a paisagem e notara que já havia anoitecido. Ficou olhando as estrelas e por um motivo que nem ela mesma sabe, procurou com os olhos as Três Marias e logo se lembrou de um velho amigo que a ensinara que elas faziam parte do cinturão de Orion. Logo um sorriso surgiu em seu rosto. Nem ela entendeu direito.
Voltou pra casa.
No caminho lembrou do seu primeiro amor. Amor verdadeiro. Daqueles que dói só de lembrar. Ela tinha 15 anos, ele já ia fazer 17. Uma lágrima escorreu no canto do rosto.
Pegou o ônibus.
Ao ver uma criança comendo pipoca, sentada a sua frente, se lembrou de seu aniversário de 10 anos. Todos os amiguinhos cantando "Parabéns a você" em volta do bolo. Ela com vergonha foi parar em baixo da mesa na hora do "Com quem será?". Outro sorriso surgiu.
Foi nesse mesmo aniversário que ela havia dado seu primeiro beijo. Um selinho, em um menino que ela gostava, mas tinha vergonha de gostar. Se lembrou de como ficou com vergonha. Riu sozinha no ônibus.
Passou na rua um rapaz que carregava um buquê de rosas. Ela se lembrou do último rapaz que dizia ter a amado. Dessa vez não houve lágrimas, nem sorrisos. Ela só lembrou.
O ônibus parou no sinal e pela janela ela viu um muro pichado com a seguinte frase "Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.".
Coincidência?
Talvez sim... talvez não...
O fato é que naquele momento a menina realmente se deu conta de tudo o que havia passado.
Ela não precisava de alguém que a amasse desesperadamente, como ela queria. Ela não precisava amar alguém desesperadamente.
Ela tinha é que se permitir ser amada, amar e principalmente se amar.
Seus amigos e familiares eram sua melhor companhia.
Não que não precisasse de um "amor", afinal, todos precisamos, mas ela chegou a conclusão que existem várias formas de amar.
Ela não se decepcionou com isso, pelo contrário. Foi reconfortante.
Agora sim ela entendia o que a cortomante queria dizer.
Prometeu a ela mesma que daria chances de ser feliz. Não ia deixar passar uma oportunidade. Ia tentar ser feliz do jeito que tivesse de ser.
Quanto ao amor?
Ela agora queria dar chance a ela mesma. Se alguém falasse que a amava ela também amaria esse alguém. Ou pelo menos tantaria.
Para ela agora só importava uma coisa: só queria não deixar de ser feliz.

4 comentários:

  1. Oi, Fernando! Belo conto, Madame Bonheur e a sua continuação ficou fantástico. Abraços ao amigo! Gleidson Melo http://gleidson-melo.blogspot.com

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  2. Olá, Gleidson! Que bom que você gostou! Fico feliz mesmo. ^^

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  3. "Felicidade sem motivo" essa é a verdadeira felicidade pois não precisa de um motivo, ou seja, ela não é passageira que só vem quando algo acontece. E amar a si próprio deve ser sempre o nosso 1º amor!!!

    Beijão

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