H: Que bom que veio! Achei que não viria...
M: Jamais deixaria de visitar meu melhor amigo!
H: E como vai minha mãe?
M: Bem, ela quase nunca sai de casa...
H: Qual é o seu sonho?
M: Como é?
H: Seu sonho... O que você mais deseja?
M: Ah, desejo ser feliz, como todo mundo... ter saúde, dinhei...
H: Não, não, não! Eu não falo desse tipo de sonho! Falo do seu sonho de verdade!
M: Como assim?
H: Seu sonho mais puro! O meu, por exemplo, é poder nadar no mar e não me preocup
ar em respirar... viver como os peixes...
M: Mas isso é impossível!
H: E quem foi que disse que todos os nossos sonhos são possíveis?
M: Bem... ninguém! Mas sonhar em viver como um peixe me parece loucura!
H: E eu não sou um louco?
M: ...
H: Vamos! Fale! Qual é o seu sonho?
M: Vamos, deixe de bobagem! Vim trazer-lhe estes confeitos que sua mã...
H: Eu não quero saber de confeitos! Não agora!
M: Mas...
H: Sabe, essa noite, enquanto eu jogava xadrez com a insônia, fiquei pensando nas melhores coisas que já fiz na minha vida!
M: Como o que?
H: Você se lembra dos passeios que fazíamos no jardim botânico todos os sábados?
M: É claro!
H: Você se lembra de como você gostava tanto dos girassóis?
M: Ainda gosto deles... só que... depois que a gente cresce... temos coisas mais importantes e não podemos mais visitar os campos de girassóis.
H: Pois se eu pudesse, visitá-los-ia todos os dias. Assim como as palmeiras e os botões de rosas...
M: Você não tem idéia...
H: Ah! Você se lembra das borboletas do jardim botânico? Você adorava as borboletas!
M: Eu ainda gosto das borboletas também...
H: Eu sonho em voltar ao jardim botânico!
M: Um dia te levarei lá!
H: Você jura?
M: Juro!
H: ...
M: Sabe, naquele tempo eu tinha um sonho impossível também...
H: E qual era?
M: Eu queria ser uma borboleta?
H: E não quer mais?
M: Não, era bobeira de menina...
H: Suba aqui!
M: Como é?
H: Suba aqui e feche os olhos!
M: Tudo bem, mas o que você vai fazer?
H: Confie em mim e agora abra os braços!
M: Feche a janela, está ventando muito!
H: Não é a janela! Não está sentindo?
M: O que?
H: Você é uma borboleta agora! Bata as asas! Bata as asas!
M: Eu... sou... uma borboleta?!
H: É sim! Viu? Nenhum sonho é impossível!
M: (risos) Você é mesmo louco!
H: (risos) Eu sei... é por isso que estou em um hospício...
(Toca uma campainha)
M: É hora de ir!
H: Tudo bem... Dê lembranças à minha mãe!
M: Pode deixar!
H: Ah! Antes posso te contar um segredo?
M: Claro!
H: Quando eu era menino... eu amava uma borboleta.