3 de dezembro de 2009

Sonhantes

H: Que bom que veio! Achei que não viria...

M: Jamais deixaria de visitar meu melhor amigo!

H: E como vai minha mãe?

M: Bem, ela quase nunca sai de casa...

H: Qual é o seu sonho?

M: Como é?

H: Seu sonho... O que você mais deseja?

M: Ah, desejo ser feliz, como todo mundo... ter saúde, dinhei...

H: Não, não, não! Eu não falo desse tipo de sonho! Falo do seu sonho de verdade!

M: Como assim?

H: Seu sonho mais puro! O meu, por exemplo, é poder nadar no mar e não me preocup

ar em respirar... viver como os peixes...

M: Mas isso é impossível!

H: E quem foi que disse que todos os nossos sonhos são possíveis?

M: Bem... ninguém! Mas sonhar em viver como um peixe me parece loucura!

H: E eu não sou um louco?

M: ...

H: Vamos! Fale! Qual é o seu sonho?

M: Vamos, deixe de bobagem! Vim trazer-lhe estes confeitos que sua mã...

H: Eu não quero saber de confeitos! Não agora!

M: Mas...

H: Sabe, essa noite, enquanto eu jogava xadrez com a insônia, fiquei pensando nas melhores coisas que já fiz na minha vida!

M: Como o que?

H: Você se lembra dos passeios que fazíamos no jardim botânico todos os sábados?

M: É claro!

H: Você se lembra de como você gostava tanto dos girassóis?

M: Ainda gosto deles... só que... depois que a gente cresce... temos coisas mais importantes e não podemos mais visitar os campos de girassóis.

H: Pois se eu pudesse, visitá-los-ia todos os dias. Assim como as palmeiras e os botões de rosas...

M: Você não tem idéia...

H: Ah! Você se lembra das borboletas do jardim botânico? Você adorava as borboletas!

M: Eu ainda gosto das borboletas também...

H: Eu sonho em voltar ao jardim botânico!

M: Um dia te levarei lá!

H: Você jura?

M: Juro!

H: ...

M: Sabe, naquele tempo eu tinha um sonho impossível também...

H: E qual era?

M: Eu queria ser uma borboleta?

H: E não quer mais?

M: Não, era bobeira de menina...

H: Suba aqui!

M: Como é?

H: Suba aqui e feche os olhos!

M: Tudo bem, mas o que você vai fazer?

H: Confie em mim e agora abra os braços!

M: Feche a janela, está ventando muito!

H: Não é a janela! Não está sentindo?

M: O que?

H: Você é uma borboleta agora! Bata as asas! Bata as asas!

M: Eu... sou... uma borboleta?!

H: É sim! Viu? Nenhum sonho é impossível!

M: (risos) Você é mesmo louco!

H: (risos) Eu sei... é por isso que estou em um hospício...

(Toca uma campainha)

M: É hora de ir!

H: Tudo bem... Dê lembranças à minha mãe!

M: Pode deixar!

H: Ah! Antes posso te contar um segredo?

M: Claro!

H: Quando eu era menino... eu amava uma borboleta.